Universo Educacional - The Return



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domingo, 30 de maio de 2010

Última parte da entrevista com as professoras Rosangela e Lucia Miranda

Quinta parte


Lúcia Miranda Rosa é Mestre em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade São Paulo (USP); especialista em Língua Portuguesa e em Literatura Brasileira pela Universidade São Marcos; professora de Língua Portuguesa e suas literaturas, Comunicação e Expressão, Leitura e Redação e orientadora de Leitura e Pesquisa, nos cursos de Letras, Pedagogia e Direito, das Faculdades Integradas Torricelli, Guarulhos, e dos programas de capacitação de docentes da Teia do Saber (Projeto da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo). Profere palestras sobre a importância da leitura e da escrita. Ingressou no mundo da autoria com as recentes publicações de seus livros Hannah – A Flor das Águas (2008) e Rosa de Sarom (2009).


Qual a posição do gramático em relação ao linguista? O Gramático estuda e defende o uso das normas gramaticais; o linguista estuda o falar – o ato da fala – como fenômeno, isto é, como a língua se realiza como acontece na boca do falante. O gramático quer que todo falante fale corretamente, fazendo uso das regras gramaticais, que fale como se fosse a própria gramática ambulante, mas não é assim que de fato ocorre, e é, justamente este, o xis da questão e causador das polêmicas entre gramáticos e linguistas.
O que o linguista deixa claro é que a despeito de todas as imposições (normas e regras) firmadas pela NGB, o falante fala, comunica-se, entende-se, e o gramático e sua gramática não podem fazer nada para impedir que a fala aconteça: ela acontece, porque quem faz a língua ser viva é o falante.
Enquanto a Gramática é descontextualizada*, a fala é puro contexto, é a língua em ação. A gramática 100% correta está nos livros de Gramática, em que palavras estão dispostas, arranjadas da maneira como os estudiosos gramáticos organizaram-nas e classificaram-nas uma a uma para o bem falar e o bem entender; mas não é da forma como está nos manuais de gramática que a fala acontece. Entre ambas, gramática escrita e gramática falada, há um longo distanciamento, de acordo com os diversos níveis de linguagem.
Em síntese, o funcionamento da língua portuguesa se dá assim: como se deve fazer (teoria) e como se faz (prática), eis a posição do gramático e do linguista.

Última parte


Existe um conflito entre a Gramática e a Linguística? Acho que existe sim um conflito entre os profissionais e estudiosos desses dois ramos da língua portuguesa, pois o gramático insiste em ensinar a gramática tal qual está registrada nos livros gramaticais, sem levar em consideração a gramática internalizada do falante, e o linguista afirma que a língua não é feita pela gramática, mas pelo falante da tal língua, no caso, a portuguesa. O que o linguista pretende que o gramático entenda é que nem sempre o falante tem acesso ao padrão considerado culto da língua, não domina a norma culta, portanto, a língua culta é como se fosse outra língua para o falante da fala popular. Entre gramático e linguista deve haver um entendimento, senão sempre existirá esse conflito que não leva a nada. Ou leva, porque, se não fosse ele (conflito), não haveria tantos estudos gramaticais e linguísticos para ainda mais nos enriquecer.

Como se atualizar na gramática, já que passa por mudanças? Atualmente, assistimos a uma palestra, no Museu da Língua Portuguesa, ministrada pelo Prof. Ataliba T. de Castilho, e ele disse que devemos ter a nossa gramática, existe uma gramática padrão, mas devemos saber utilizá-la em cada situação. Como afirma o Prof. Evanildo Bechara, devemos ser poliglotas na nossa própria língua, só assim saberemos falar com a cozinheira, com o pessoal da zeladoria da limpeza, com o professor, com o diretor, com os alunos etc.; mas para chegar a essas condições devemos dominar o código maior, a gramática. Repare que todo linguista, mesmo assumindo uma posição hostil, se é que é este mesmo o termo que posso usar, em relação aos gramáticos, ele domina a gramática; e, como vimos na palestra, um deles, Rodolfo Ilari, até escreveu uma Gramática, e ainda brincaram entre eles, que todo linguista acaba escrevendo uma gramática. Mas, o mais importante para a atualização da gramática é a leitura, principalmente de jornais.

Qual foi o pior erro que a Senhora já cometeu, numa situação que exigia o uso da norma culta? Não foi um erro tão grave, pelo fato de eu ser muito cautelosa e estar sempre atenta a minha fala, naturalmente atenta. Eu me lembro que, de certa feita, ao conversar com uma colega da faculdade, quando cursava o curso de Letras, e disse para ela: “por causa que...”; ela deu risada, e estranhei e lhe perguntei o motivo. Ela me perguntou por que eu sempre usava o “por causa que”, em vez de “porque”. Lembro-me que fiquei muito constrangida por ser corrigida, mas gostei; essa forma de justificar “por causa que” era tradição na fala de pessoas do interior. Às vezes até brincamos em certas situações, por exemplo, com o gerundismo, brinco bastante com os meus colegas de sala dos professores, usando o tal gerundismo de propósito.
“(...) nós devemos sempre melhorar a nossa linguagem, lendo e estudando, pois a linguagem descuidada denota falta de educação...”
NASCIMENTO, Edmundo Dante. Os cem erros mais correntes da língua portuguesa falada no Brasil. 2. Ed. Rede Latina: São Paulo, 1960, p 11.


“(A Gramática) faz uso da língua uma questão de disciplina, de obediência a ‘dogmas’, com forte componente elitista e repressivo.(...) Que se deve aprender na modalidade culta? Claro. Mas isso não permite reduzir o estudo gramatical a um manual de etiquetas.”
FRANCHI, Carlos. Criatividade e gramática. In: Trabalhos em Linguística aplicada. Unicamp, Campinas, 1987.


“Os ‘delinguentes’ da língua portuguesa fazem do principio histórico ‘Quem faz a língua é o povo’ verdadeiro mote para justificar o desprezo de seu estudo, de sua gramática, de seu vocabulário, esquecidos de que a falta de escola é que ocasiona a transformação, a deterioração, o apodrecimento. Cozinheiras, babás, engraxates, trombadinhas, vagabundos criminosos é que devem figurar, segundo esses terroristas, como verdadeiros mestres de nossa sintaxe e legítimos conhecedores de nosso vocabulário.”
Trecho do gramático Napoleão Mendes de Almeida, citado em FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática de texto: língua portuguesa para nossos estudantes, 1992, p. 60.



Por Carlos, Graziela e Elizangela.

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